sábado, junho 28, 2008

AS SETE SAIAS DAS NAZARENAS
Ao desfolhar o Jornal “SOBERANIA DO POVO” publicado em Águeda e da autoria de Manuel Farias, encontrei uma abordagem sobre o Folclore português que eu não conhecia de todo e que não resisto em transcrever aqui. O artigo intitulado “O folclore e a raça” aborda desta maneira a questão do folclore, onde ressalto a história das “nossas estimadas nazarenas”. Os destaques no artigo são meus. Quem havia de dizer que nazarenos e penicheiros têm tanto em comum nos resíduos do Estado Novo.“Não tendo outro alicerce para o Estado Novo, para além da esperança da modernidade que o povo português sabia que tinha direito, António Salazar deitou mão de uma nova cultura popular para acoitar e condicionar o povo português durante muitas décadas, para além da censura e da prisão, já que a dita esperança de modernidade, entre 1928 e 1974 nunca passou da dita. Assim, tornou-se desígnio do Estado Novo moldar uma nova cultura popular, já que a genuína cultura tradicional do povo português possuía valores de auto-suficiência, de solidariedade, de comunitarismo, de espontaneidade brejeira que perturbava os aliados da Santa Sé, de pensamento livre, de alegria natural e simplicidade de processos.·NOVA ORDEM, NOVA CULTURA Salazar percebeu que um povo assim jamais teria ordem “ordenada”, nunca seria temente nem obediente, dispensaria patronos, não acolheria o corporativismo em vez do cooperativismo, enjeitaria a estagnação, não desprezaria a novidade, haveria de ser solidário perante a diferença e, sobretudo, haveria de valorizar quem se dispusesse a pensar pela sua própria cabeça. Em resumo: não haveria Estado Novo.Lá, nos esquecíveis anos 30 e 40, António Ferro foi o ideólogo do regime que inventou novos padrões para o folclore do povo português, acrescentando 6 (seis!) saias às mulheres da Nazaré, ornamentando as minhotas com ouro, resumindo o fandango ao Ribatejo (ainda por cima só com homens, como se os ribatejanos fossem homossexuais!), pôs cintas com pontas caídas aos beirões, chapéus com borlas para ribeirinhos da Beira Litoral e, pasme-se!... as algarvias pacatas e pudicas, foram desafiadas para uma nova dança, chamada corridinho, onde levantariam a perna mostrando coxas envolvidas em coullotes acabados de importar da cosmopolita Paris. Tudo novo, em nome do folclore antigo, mas para viabilidade do regime e desgraça da cultura tradicional portuguesa.Em consequência e passado meio século, o que foi inventado tornou-se quasi-tradição, tal como os collotes, as cintas com pontas caídas, as sete saias da Nazaré, as borlas nas fitas dos chapéus, o fandango só de homens, as pernas levantadas no corridinho, o ouro minhoto, etc, etc. A farsa é tão grande, que os próprios políticos que foram os pais da incultura tradicional, dizem que é folclore quando puxam das suas farpas politiqueiras contra os seus adversários. Trata-se, efectivamente de incultura não saber que folclore é significado de valores e de património cultural imaterial dos povos, não se resumindo a danças e transportando a identidade de que somos parte. Quem dedicou alguma atenção ao fenómeno do Estado Novo, percebeu que a violência exercida sobre o povo português não se resumiu à repressão física, à PIDE, ao Tarrafal, a Caxias, a Peniche, aos julgamentos sumários no Tribunal de Monsanto ou à censura; muita desta coação também foi ideológica, alienando valores tradicionais do povo aos f's de Fátima, de fado, do futebol e do folclore falso.”

1 comentário:

António Alves Barros Lopes disse...


Ver
http://lopesdareosa.blogspot.pt/2016/04/o-ouro-das-minhotas.html
lopesdareosa